31 de out. de 2012

da gente...




"Com o tempo a gente se perde, não? A gente se perde e fica cada vez mais difícil se encontrar. Não pode dar espaço pra incerteza, pra falta de bom senso e pra falta de humor. Não pode. A gente vai se perdendo e chega um ponto na vida que, mesmo decidido a volta, nada pode ser mudado completamente. Porque quando há a volta, a gente enfrenta os problemas, antes deixados pra trás, de frente. A gente olha diretamente nos olhos e não há como recuar. É como entrar em casa e de repente não reconhecer o marido e os filhos. Olhar pra aquelas caras e tentar entender o que eles fazem ali, por que ocupam aquele espaço na sua casa e por que a olham com tanta estranheza, como se não a reconhecessem também. A gente entra em casa e parece estar numa outra dimensão, onde tudo anda mais lento, onde tudo é mais feliz, mas onde a hostilidade é muito maior com as diferenças. Com o tempo, a gente se perde por conta das diferenças que deixamos de exercer. Deixamos de ler os livros que gostamos porque são chatos, não-intelectuais, porque eles não estão nas listas dos livros recomendados pelos grandes escritores. Deixamos de ouvir as músicas que gostamos porque são bregas. A gente se perde por pouco. Pela opinião dos outros, pelas caras tortas e pelo dedo apontado. Com o tempo, a gente se perde tanto que não há mais volta e pular do abismo é a melhor solução. Nem sempre há como retroceder e as oportunidades, sim, elas são raras. Com o tempo, a gente não consegue mais admirar a nossa família, não consegue mais aturar a incompetência no trabalho. A gente, esse bando de gente tola e estúpida, nós estamos nos perdendo tentando bestamente nos enfeitar."

Bela cópia feita do blog Estranhos, texto excelente escrito por 
Marcelo R. Rezende

2 comentários:

Marcelo R. Rezende disse...

Obrigado por compartilhar meu texto, querido.
Muito bom vê-lo aqui <3

Gaby Lirie disse...

Nossa, que texto ótimo.
Nos perdemos querendo nos enfeitar de acordo com os padrões que achamos certos.

Muito bom!

Beijos!